sábado, maio 27, 2006

Dinamarca vs. Mundo Árabe

Voltando ao que tinha falado antes, da polêmica do conflito entre expressão e religião. Vou dizer a minha visão dos fatos e minha opinião, tentando ser o mais sucinto possível.

Um escritor dinamarquês queria escrever um livro sobre maomé para crianças e não achou ninguém pra ilustrar seu trabalho. Todos os artistas disseram que tinham medo de alguma reprimenda por parte da comunidade islâmica. Ao ficar sabendo desse transtorno, o editor do jornal dinamarquês Jyllands-Posten fez um teste, contactou 40 artistas famosos na dinamarca, e pediu pra que desenhassem sua visão pessoal de maomé para o jornal. Desses, somente 15 aceitaram, e 12 entregaram de fato. São as doze charges que foram publicadas. Elas podem ser conferidas aqui.

Após a publicação, alguns leitores emitiram protestos pelo conteúdo das charges. Uma passeata pacífica foi realizada em frente ao Jyllands, e até aí tudo tranquilo.

O caldo começou a entornar quando a Islamik Trössamfund, a associação islâmica da Dinamarca, resolveu se pronunciar a respeito, na figura de seu líder, o palestino Ahmad Abu Laban. O Tössamfund declarou que era um ultraje, convocou todos os islâmicos residentes na Dinamarca ao protesto, e afirmou que essas charges na verdade eram um sintoma de um profundo preconceito existente na população dinamarquesa. Não satisfeito, Ahmad iniciou um tour por todos países islâmicos no oriente médio/norte da áfrica, onde circulou um dossiê contendo sua investigação pessoal da situação, inclusive com as quinze charges. A consternação geral disseminou-se como um uma epidemia, e logo se queimavam bandeiras dinamarquesas e foram realizados ataques a embaixadas daquele país.

O curioso é que, se você tiver prestado atenção nos detalhes, eram só 12 cartuns, não 15. Ahmad enfiou três cartuns, esses sim, altamente racistas, em meio aos que não foram publicados. Esse mesmo cidadão é persona non grata tanto nos Emirados Árabes quanto no Egito.

Aqui param os fatos, e começam as opiniões.

Pra mim fica claro que o mal-estar causado pela situação é totalmente artificial e sem razão de ser. Eu acho que certo estava quem protestou lá na frente do Jyllands, estava em seu direito assim como o jornal estava. Mas daí a passar pra violência é um grande retrocesso, é abandonar o diálogo pela selvageria. E a postura da dinamarca, que em todo tempo disse que o direito de se expressar é garantido ao jornal, contanto que não fira nenhuma lei, é mais que correta.

A liberdade de expressão só pode ser restrita nos casos mais vitais, e com certeza, esse não era um deles. Dezenas de religiões são achincalhadas todos os dias. Quem nunca tirou onda de Tom Cruise pela cientologia que atire a primeira pedra.

Mas não é por isso que vocês veem Mr. Cruise chutando uma imagem de santa ou explodindo uma relíquia ancestral de uma religião.

Tolerância é um valor necessário, ou não temos como manter a democracia...

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

mas tolerância tb é um conceitozinho pernicioso. se eu não me engano foi o saramago quem disse que tolerar é conceder, e conceder é exercer uma certa superioridade. legal seria se a gente evoluísse pra um estado de relações sem intolerância ou tolerância.

9:35 PM  
Blogger Wagner Artur said...

Tolerância não pode ser tolerada, às vezes.

Incrível, não?

6:32 PM  

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