segunda-feira, maio 22, 2006

Filosofia do cotidiano

Então, (Estou lentamente me viciando nesse pedaço gramatical de mau caminho)
Estava hoje procurando novidades sobre uma amiga em seu blog, e vi um comentário que achei deveras e assaz pertinente, sobre o conteúdo de seu blog ser uma espécie de filosofia do cotidiano. Me encantei pelo termo, e vou roubá-lo pra mim.
Talking about cotidiano, then.
Ultimamente tenho comentado isso com todo mundo, e talvez seja uma auto-crítica. Vocês não acham que de uns tempos pra cá todas as histórias são passes de mágica? Fogos de artifício? Fulaninho vive em uma situação xis, é submetido ao momento ípsilon, e quando menos se espera, revela-se na verdade que tudo que você pensou estava errado, e a saída do imbróglio é a situação zê.
Sinto falta de histórias onde João acorde seis da matina, tome seu café sonolento, pegue duas conduções pra ir pro trabalho, passe um dia modorrento de trabalho manual repetitivo, volte pra casa lá pelas quatro, pegue mais duas conduções, e chegue em casa na hora em que começa o Jornal Nacional. E THAT's IT. Sem reviravoltas ribombantes.
João não estava o tempo todo sonhando, ele não está em coma, seu café não estava envenenado, ele não foi secretamente conduzido por agentes do FBI, ele não trabalhava inconscientemente pra uma agência secreta de contra-espionagem, ele não voltou pra casa em um ônibus dirigido pelo seu pai amnésico que estava perdido há anos e nem está sofrendo lavagem cerebral da globo.
Eu sinto falta da vida contada, a vida como ela é.
Se não me falha a memória, C. S. Lewis tinha uma fórmula lógica sobre como se faz uma boa história. Ele dizia que elas eram feitas de pessoas comuns submetidas a situações incomuns, ou o inverso. Uma espécie de polos opostos que se atraem. E como na física, os polos idênticos simplesmente não funcionam juntos. Pessoas comuns em situações comuns dá em uma história desinteressante por falta de novidade, e pessoas incomuns em situações incomuns gera uma situação totalmente fora do seu mundo com o qual você não consegue buscar uma relação à sua vida, logo, se torna um nada perdido em lugar nenhum.
Eu acho que ultimamente tenho me perdido na situação de histórias de situações incomuns. Sinto falta do cotidiano, sinto falta das pessoas terem vontade de abstrair algo novo de dentro do usual, como um burilador que faz de uma pedra feia surgir uma gema de topázio ou esmeralda.

Acho que ao menos pra mim, a brincadeira de adivinhar o final do filme já perdeu a graça.

Talvez se a gente parasse de esperar um milagre, ou uma situação incomum ou adversa qualquer, fôssemos capazes de ver algo de incomum no que há de mais banal :P

Vivo dizendo a Marcelo que "ocasião perfeita" é uma sacanagem que o diabo inventou pra ceifar corações inocentes. A frase não é exatamente essa, e é uma verdade bem cliché.

Como se dizer "eu te amo" não fosse um clichê e ao mesmo tempo a frase mais difícil de ser dita corretamente. A linguagem é uma coisa muito louca mesmo. ^^

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ow... adorei esse post
E pensei milhões de coisas ao mesmo tempo
Só posso dizer que sinto falta dessas mesmas coisas
:***

3:12 AM  

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