domingo, julho 16, 2006

Ele consegue voar


Acabo de sair da sessão de Superman Returns. Tirando todo o - tradicional - delírio de fanboy, o filme foi particularmente rico não em coisas novas, mas repetições e lugares-comuns.

E isso é particularmente mágico.

A coisa que mais me fascina na personagem do Super-homem é como ele representa tudo aquilo que não é politicamente correto atualmente. Ele não é representante de uma etnia minoritária, não é descendente de imigrantes, não fala o meu idioma ou tenta fazer parte de uma aldeia global, ele não tem depressão ou desvios existenciais particulares da humanidade. Ele não sai de casa com a cara pintada pra protestar contra o que acredita. Ainda assim, é o maior certinho da história da cultura pop. E todo mundo sabe que o politicamente correto odeia os certinhos, eles são aberrações do sistema, falhas na matrix.

Além disso tudo, ele representa uma entidade anacrônica, meio homem meio deus, quase onipotente. E sua onipotência é uma ameaça pra humanidade, pois diante dela o homem vê sua pequenez diante de todo o resto do mundo. Não bastando isso, ele ainda se veste de humano. Se veste de frágil. Em vez de assumir logo seu trono por direito - ou melhor, por força bruta que enseja o direito - ele opta por viver seu caso diário de aparente displicência e desfaçatez.

E talvez o mais absurdo seja sua inocência. Ele crê na bondade, nas pessoas, na política, na família, nos amigos, na vida. Pobre diabo, ninguém avisou que o mundo está assolado por batráquios e verminosos querendo sugar seu sangue de qualquer forma possível. Mal sabe ele que o mundo todo está configurado em um plano pra pegá-lo numa arapuca, uma verdadeira sinuca de bico.

Então, ele é inocente, idealista, ilimitado e ordeiro. Não existe coisa mais demodé, mais retrógrada, mais fora do tempo, mais caxias, mais medíocre, mais mesmice. Super-homem hoje devia cuidar da casa, advogar os direitos das mulheres, ser árabe ou chinês, ser GLS e ainda ler Fante e ter O Vagabundo Iluminado na cabeceira.

E eu aqui querendo um dia ter um filho e ensinar o garoto a não mentir, tratar bem a todos e não desistir. Não sei se o super-homem serei eu ou será ele...

ps: welcome back, starman ...


2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito muito bom texto.
Mas não, eu não acredito no super homem, se tivéssemos de supor uma existência de alguém que tem todos os poderes que ele tem e ainda opta por viver do jeito que ele vive. Só podia não ser humano mesmo.
É, sou cética demais, sonhadora de menos. Que triste.

2:21 PM  
Anonymous Anônimo said...

faça o caminho do silogismo vc mesmo, no final:
superman é jesus!!!

que horror(?), eu ainda acredito...

5:12 PM  

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