quinta-feira, abril 19, 2007

“Bang, Bang!” ou ”You got it all wrong, man!”

Tem dias que o noticiário me dá raiva, bastante raiva. Certas chamadas que você ouve te deixam empenhados em arranjar uma justificativa pra excluir a má-fé do jornalista, e classificar, simplesmente, como ignorância.

Como bom nerd proselitista, já me acostumei com acusações de “adorador do diabo” e “drogado vagabundo”, “psicopata em formação”. Afinal, não tenho culpa de ser praticante e defensor de práticas como RPG e videogames, que parece ser senso comum que são bem piores pra uma pessoa do que um câncer causado por fumo ou excesso de álcool.

Hoje vi na internet mais uma pérola desse tipo de jornalismo escada-rolante-assassina: “Filme sul-coreano teria inspirado massacre nos EUA”. O que vem a seguir é lógico, e já aconteceu trocentas vezes: vários periódicos distribuem o “furo”, mesas redondas com psicólogos e sociólogos discutem o impacto da violência na vida dos jovens, alertando os pais sobre a vida tenebrosa que aguarda seu filho, que será um maníaco-depressivo ou eternal underachiever, se entrar nesse mundo de destruição. Não que a violência não tenha um papel, mas não é, de forma alguma, the crux of the issue.

Ironicamente, a mensagem mais coerente que li sobre o assunto veio da newsletter The Fiver, do Guardian, que geralmente se ocupa em comentar fofocas dos clubes ingleses, maltratar Second-Choice Steve e elogiar The Special One, Mourinho.
TROUBLE IN AMERICA Comedian Chris Rock used to do a good stand-up routine about the Columbine massacre. "Everybody wants to know what the kids was listening to," he'd say, referring to the hysterical media handwringing that followed the 1999 shooting spree. "What kind of music was they listening to? Or what kind of movies was they watching? Who gives a f*** what they was watching? Whatever happened to crazy? What, you can't be crazy no more? Did we eliminate 'crazy' from the dictionary? F*** the records! F*** the movies! They was crazy!"
Eu me pergunto se é difícil assim notar que o garoto tinha problemas. Garotos igual a ele tem problemas todos os dias, e parece que a lição de Columbine não foi aprendida. Eu não ficaria tão surpreso se me deparasse com um atirador na UFRN em um futuro próximo. Não lembro a cifra exata, mas acho que era algo em torno de 20% dos alunos a Universidade Federal do Rio Grande do Norte sofrem de depressão. Tenho impressão inclusive que o número é BEM maior que esse. Vi essa notícia na capa da Tribuna ou do DN, não lembro.

Dia desses na prática jurídica nosso grupo - eu não estava lá, mas me disseram - recebeu um cidadão, um jovem do interior, que mora na Residência Universitária. Como estudante de Direito, começou a aprender na faculdade sobre um troço de "direitos fundamentais", e foi lá na prática exigir seus direitos. Reclamou que as instalações são péssimas, sem segurança alguma, onde oito estudantes são amontoados onde só caberia cinco. Como boa parte dos casos, meu grupo deu um tapinha nas costas do rapaz, e disse um "nada feito".

Francamente. Você coloca um jovem num universo de pressão e exclusão social, exige que ele se desenvolva por abiogênese, se diverte em criticar aquele rapaz que anda desengonçado ou tem uma voz estranha, não tá nem aí pra se uma GRANDE PARCELA da Universidade FEDERAL - não é uma privada qualquer, em tese são os melhores que estão lá - vivem em depressão, e fica surpreso quando alguém explode?

O caso do jovem coreano é um caso singular, mas igual a muitos outros, tanto lá fora como aqui no Brasil. Não é uma questão de por a culpa nos mundos e nos fundos, a culpa é da sociedade que não sabe tolerar os diferentes, e eu me incluo nisso. Mas é um exercício que todos precisamos empreender.

A genial editora do blog IntLawGrrls fez um comentário extremamente contundente. Postando um quadrado preto, disse que não ia por mais imagens da violência. Por mais que imagens assim nos choquem e nos scudam pra os absurdos que acontecem no mundo, também nos mutilam um pouco, fazendo que percamos o susto do inesperado, e aos poucos, achemos tudo normal.

Se acostumem com os flashes, garotos, o Elefante no meio da sala que ninguém quer discutir está ficando cada vez mais arredio, e suas consequências já viraram assunto normal. Só nos resta uma coisa: Blame Canada!