sexta-feira, dezembro 29, 2006

Bye Bye, So long

No espírito das reflexões de fim-de-ano, todo mundo se prepara pra dizer adeus a um monte de coisa. Um semestre de faculdade, com todas aquelas matérias irritantes. Aquele nível saco no curso de inglês. De repente até aquele aperto financeiro que vai embora graças ao bendito décimo-terceiro. Fora essas condições incômodas, também usamos esse período como metáfora para expurgar sentimentos ruins. Adeus a um ano de azar. Procurar um emprego melhor, afastar o karma de uma pessoa irritante que te persegue. Há quem acredite também na importância de se escapar do mau-olhado, mas eu sinceramente não acredito nessas coisas. De qualquer forma, é um rito. Uma metáfora. Nas doze badaladas do relógio, damos reset, e viramos a folhinha do calendário. De dezembro, inverno natalino, estamos em janeiro - no verão natalense, no meu caso - e tudo é diferente.

Pra mim esse vai ser um fim-de-ano especial. Primeiro por ser o primeiro em que eu passo longe da minha família. Foi todo mundo pros states e eu sobrei por aqui. Mais interessante é um palpável sentimento de mudança no ar. As coisas estão mudando, e quando se muda, se morre um pouquinho. Quando se muda tudo se renasce em algo diferente, assim como se despede do que era no passado.

Pouco mais de um ano atrás eu perdi um grande amigo, que morreu - sem rodeios - pela razão de ouro do destino, simplesmente que era chegada a hora. A hora chega, não tem jeito, não tem cuidado e preocupação que resolva. Mas enfim, mesmo após dos funerais, a pessoa ainda fica em nossas memórias - até na personalidade, dizem - e curiosamente ficou presente tambem, veja só você, no Orkut. E pra mim, assim como pra muitas pessoas - dava pra ver pelo scrapbook - era uma espécie de memorial, onde se ia buscar apoio. Do mesmo jeito que eu já fui lá deixar uma mensagem quando precisava de alguém pra me ouvir, dúzias de outras pessoas igualmente faziam sua prece silenciosa nesse estranho monumento moderno. Acho que ninguém parou pra conversar sobre isso, devíamos ser muitos que passavam silenciosos pela lápide.

E o que lamentávamos não era só a falta que nos fez - e faz - Daniel Carvalho. É a falta de um amigo. É a falta DO amigo, a figura idealizada que nos apóia. Nos lamentamos pela perda de um irmão, algo que compõe nosso corpo e nossa psiquê.

Hoje fui desejar a ele boa viagem, o sangue já secou, como dizem na minha terra. É hora de viver a metáfora da transição, e abandonar os fatos do passado. Engraçado, já não estava mais lá. Claro que eu sei que foi o orkut que o deletou por inatividade (veja só, o Orkut é mais eficiente que o INSS). Mas pra mim também foi uma forma de receber um último recado, um sonoro "vá embora, eu mesmo já fui", e me despedir, ritualmente, de um pedaço de minhas lembranças, e do ano que se passou.

And now for something completely different...

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Todos temos os nossos altares. Quebrá-los requer amadurecimento e coragem.

Feliz ano todo!

12:39 PM  
Blogger Cedê Silva said...

Awesome post.

De fato, uma lápide silenciosa - me identifiquei porque também já tive um contato no orkut que morreu, e quando aconteceu isso também o scrapbook dele foi lápide.

11:31 AM  

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